Líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG) confirmou que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, deve entregar o cargo. Uma reunião entre Lula e o ministro será realizada hoje à tarde.
O que aconteceu
Lupi sofre desgaste por causa de um esquema de fraudes no INSS. Investigação da PF (Polícia Federal) identificou que 11 entidades realizaram descontos na folha de pagamento de beneficiários sem autorização. Outros ministros de Lula e a opinião pública pressionam pela queda.
O principal problema apontado é que em 2023 ele foi alertado sobre suspeitas de irregularidades e demorou quase um ano para tomar providências.
Pesquisa da AtlasIntel apontou que 85,3% dos brasileiros querem a saída de Lupi. Além do descontentamento da sociedade, a oposição está usando a operação da PF contra Lula. A manutenção do ministro no cargo e os valores envolvidos aumentam o desgaste.
A fraude no INSS ocorreu sobre R$ 6,3 bilhões pagos em benefícios. A repercussão política ajudou e na sociedade a oposição a conseguir votos para abertura de uma CPI na Câmara. A instalação não deve ser autorizada pelo presidente Hugo Motta (Republicanos-PB)
PDT independente
O líder do partido na Câmara defende que o PDT deixe a base do governo. O partido tem 17 deputados, três senadores e possui histórico de alianças com governos do PT.
Mário Heringer adiantou que a tendência é o PDT se tornar independente. Isto significa que não haverá compromisso em votar com o governo. Já houve discussão interna sobre o assunto e a posição que tem prevalecido é esta.
O partido não gostou da forma como Lupi foi tratado. Questionado pelo UOL, o líder do partido na Câmara usou a palavra "ruim" para descrever a forma que o governo encarou o caso do ministro - que é a principal liderança do PDT a décadas.
Um fato que chama a atenção foi Lula escolher um novo presidente do INSS sem consultar Lupi. A operação da Polícia Federal fez o nomeado por Lupi pedir demissão. Atitude do presidente em preencher o cargo sem discutir com o ministro foi considerada uma demonstração pública de falta de prestígio.
Mas Heringer não considera que o PDT devesse se envolver na escolha do sucessor no Ministério da Previdência. O deputado concorda com a nomeação de Wolney Queiroz, secretário-executivo do Ministério da Previdência, que foi veiculada nos últimos dias. O líder do partido classificou o movimento como algo "natural numa transição".
Ele acrescenta que o partido concordou com a saída de Lupi do cargo. "A bancada sempre disse que apoiaria [Lupi] na decisão que ele tomasse. E assim será", declarou Heringer.
O esquema e a omissão
Associações e entidades faziam descontos na folha de pagamento de beneficiários do INSS. Existia a obrigação de autorização por parte dos aposentados e pensionistas, mas esta premissa não estaria sendo respeitada conforme a PF.
Auditoria da CGU (Controladoria-Geral da União) identificou irregularidades. Foram avaliadas 29 entidades e verificado que algumas não tinham condições de entregar as contrapartidas prometidas: descontos em academias, convênios com planos de saúde, apoio jurídico e auxílio funerário.
De acordo com a investigação, 11 associações participavam do esquema. A CGU fez uma análise por amostra e questionou 1.300 casos. Em 97% deles, os aposentados responderam que não autorizaram o desconto.
Atas de reuniões sugeriram omissão de Lupi. Os documentos mostram que o ministro foi alertado em 12 de junho de 2023. Ele se recusou a abordar o assunto naquele momento. Embora tenha registrado que a denúncia era grave, alegou que não havia como averiguar o caso de forma imediata porque se tratavam de 6 milhões de beneficiários.
A primeira providência só foi tomada em março do ano seguinte, nove meses depois. O governo publicou novas regras, mas o presidente do INSS agiu para providenciar brechas para os descontos serem mantidos.